“Coringa” e o que o filme me diz sobre saúde mental
Depois de algum tempo finalmente consegui assistir a um dos filmes mais comentados desde o lançamento. Diferente dos demais sobre vilões e super-heróis, Coringa me deixou pensativa sobre algumas questões que envolvem saúde mental, democratização do acesso e psicofobia.
Bom, pra quem não sabe, Psicofobia é o termo usado para dar nome a um ato preconceituoso com pessoas com transtornos mentais. Chamar alguém de “louco” por pensar e agir diferente dos demais é um exemplo bem simples e comum. E no filme, isso fica muito claro em cada cena.
“A pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse.”
Arthur Fleck se apresenta como uma pessoa que tem uma doença que o faz rir mesmo sem querer, e quando acontece, é olhado com desdém pelas pessoas. No seu trabalho também. Zombado por seus amigos, ele é o tal “louco” que tenta ter uma carreira como comediante.
Arthur faz acompanhamento com assistente social, toma 7 medicamentos, mas se vê sem auxílio quando recebe a notícia de que os fundos para os tratamentos no serviço público serão cortados.
Nesse ponto aqui é fundamental lembrarmos do papel importante do SUS no Brasil. Temos acesso a remédios, terapia, psiquiatria: e de graça! E nos darmos conta da importância disso é fundamental para que esse sistema dure por muito, muito tempo. O que é diferente do cenário apresentado no filme em que as pessoas com transtornos mentais sequer têm pra onde correr. Com isso, ficam à deriva, sem apoio e tratamento necessário.
Arthur sofreu muito na infância. Abuso físico, sexual e psicológico, tudo isso consentido pela mãe, Penny Fleck. Sabendo dessa informação, parece que a ficha caiu pra mim. Os traumas vividos pelo Coringa, podem ter desencadeado os seus transtornos.
A vida toda ele tentou ser o que as pessoas queriam. Sua mãe mesmo sempre dizia para que ele colocasse um sorriso no rosto, o que pra mim, fez Arthur criar a segunda personalidade para fugir dos traumas, tanto que ele precisou ler o relatório psiquiátrico da mãe para saber o que realmente aconteceu
Então, a pintura de “palhaço” que é co-relacionada com sorriso, tem tudo a ver com a história desse personagem que, quando quer chorar, tem uma crise de riso incontrolável. Até este momento, Arthur era quem tomava o controle sobre si, sendo invisível.
Mas após o seu primeiro assassinato, o Coringa entra em cena e assume a liderança! A cena da entrevista com Murray Franklin é a prova de que ele já estava ativo e o Arthur já não existia mais. Perceba a diferença da maquiagem antes e depois da virada do personagem. “Durante toda minha vida, eu nem sabia se eu realmente existia. Mas eu existo. E as pessoas estão começando a perceber.”
Então, respondendo à pergunta… o trauma tem sim muita influência quando o assunto é transtorno psicológico. E no caso do personagem, acredito eu, que não seja diferente. O que traz uma reflexão importante sobre o assunto também.
Enfim, é um filme que merece uma análise
muito mais complexa e profunda do que
essa, mas eu não podia deixar de escrever
sobre essa trama maravilhosa e de deixar
de aplaudir a atuação de Joaquin Phoenix.
Só consigo dizer: um filmão!
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